Pesquisar este blog

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

A DOENÇA DAS CIDADES

Para os que dependem dos serviços públicos, o atendimento médico hospitalar tornou-se um drama nos grandes centros urbanos. Virou rotina a falta de médicos e de vagas em ambulatórios nos hospitais superlotados do SUS. Ainda de madrugada, em enormes filas para marcar uma simples consulta, mesclam-se o desespero de mães com filhos nos braços e o silêncio conformado de idosos com o rosto marcado pela tristeza e desesperança.

Na urgência, parentes atarantados arrastam seus doentes de porta em porta, na tentativa deconseguir uma internação. Muitas destas doenças estão relacionadas à baixa qualidade das águas e devido a falta de saneamento básico em nossas cidades.O problema, na verdade, é que ao invés de políticas de saúde, temos políticas de doença. Embora seja indispensável assegurar tratamento aos que necessitam, a saúde pública necessita antes de tudo, do trabalho preventivo que não se esgota em campanhas de vacinação, mas depende da qualidade de vida no meio urbano, depende da Ecologia Urbana.

O reaparecimento de endemias, erradicadas em outros países desde o século passado como a dengue, cólera , toxoplasmose e leptospirose demonstra o quanto nossas cidades estão doentes.
Milhares de famílias vivem em favelas, construções minúsculas amontoadas em becos com poucos metros de largura. Na maioria desses locais é impossível instalar redes de infra-estrutura por isso mesmo, os moradores armazenam água em recipientes improvisados enquanto as crianças brincam em meio ao esgoto corrente a céu aberto. As moradias são pouco arejadas e freqüentemente com paredes úmidas.

Nestas condições não há como evitar o aumento de verminoses, artrites , doenças pulmonares, dermatoses, e outros males que, agravados pela desnutrição crônica, engrossando filas nos ambulatórios, postos de saúde do SUS e hospitais. Os governantes há muito esqueceram da importância do Urbanismo e do Saneamento para a saúde pública, relegando medidas elementares de combate às doenças.

Proliferam os loteamentos irregulares e as favelas, que vão sendo"oficializados" pelo próprio poder público, incapaz de oferecer melhores alternativas para habitação. Ao mesmo tempo, interesses econômicos se sobrepõem ao planejamento urbano, afetando até os que usufruem melhor renda. É o caso da verticalização e o adensamento excessivo das edificações, com ambientes mal ventilados aonde é rara a presença de um raio de sol, contribuindo para o aumento das doenças respiratórias e dos problemas alérgicos. A saúde depende da geração de empregos e da distribuição da renda, mas a prevenção de doenças começa necessariamente pelo Saneamento e pelas condições das habitações. Infelizmente a maioria dos municípios, que têm responsabilidade direta pelas cidades, pouco tem feito para garantir o ordenamento urbano para assegurar parâmetros mínimos de salubridade ambiental. Normas para o parcelamento de uso e ocupação dos solos, como larguras mínimas de vias ou exigências de afastamentos entre as edificações não são obedecidas. E , muitos municípios, sequer investiram num Plano Diretor de desenvolvimento urbano.

Estas normas de Urbanismo existem para permitir a implantação das redes de saneamento básico e a coleta regular do lixo, para impor limites ao adensamento urbano e assegurar a necessária ventilação e a insolação dos ambientes. A fiscalização das prefeituras deve proibir a construção de barracos próximos das encostas sujeitas ao desabamento, caso contrário, assistiremos a repetição das tragédias urbanas em cada estação das chuvas de verão.

Todos os anos, podemos avaliar o quanto é grave este aumento de lixo nas grandes cidades causando transbordos de rios, esgotos entupidos, trânsito caótico e desmoronamentos de encostas além das pessoas desabrigadas.

O "tratamento das cidades", além de capacidade técnica, não depende somentede recursos financeiros, senão de vontade política e aplicação da legislação adequada. Para acabar com as filas de doentes, é preciso haver Médicos em uma ponta mas, na outra devem estar os Engenheiros e os Arquitetos. Por isso, ao invésde reivindicar mais verbas para alimentar a indústria da doença, é tempo de exigir vida urbana com qualidade.

Nenhum comentário: