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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Poema Rupestre

Se um dia os Arqueólogos de um futuro distante,
nas complexas escavações do Século XXI, achariam
tantos registros, hieróglifos, kanjis, infinitos símbolos ASCII...
Exaustivas pesquisas sobre o Ser e o Nada...
Tentativas vãs em decifrar os enigmas de Sartre.
Nos CD´s for Windows, abririam infinitas janelas, mas...
Jamais encontrariam a porta de saída.
Seriam devorados pela Esfinge da Mídia Digital.
Levariam o tempo de outra civilização para decifrá-los.
Mas se encontrarem uma partitura, com um poema,
dentro de uma garrafa, em caracteres góticos.
O que significaria aquela estranha simbologia?
- Nada... absolutamente nada!
Apenas uma canção de amor, que fala aos corações,
que toca nossas vidas cansadas de maus tratos.
Que mensagens teriam para contar?
Ou será que era somente para cantar?
A Arte é o nosso verdadeiro retrato.
Mesmo depois que tudo desaparecer
Sobrará a Arte como prova final da nossa existência,
da nossa alma simples e pura.
Somente a Arte sobreviverá ao tempo.
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Ernesto Ubiratan Marchiori

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Poema da Ilha do Mel

Uma ilha carregada pelo Silêncio do Mar
Macias, finas areias que já foram montanhas
Lua nova, Praia iluminada pelas estrelas.
Nebulosas da Via Láctea em Zênite
Estrelas cadentes trazendo
meteoritos ao fundo do mar.
Pés em atrito com a areia macia.
Estrelinhas que ficam pelo chão
Divinas Transições do Fósforo.
Marcas do caminhar pela Ilha do Mel.

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Ernesto Ubiratan Marchiori

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Ciclos de Energia

A reciclagem é uma forma de aplicar a Lei da Conservação das Massas, favorecendo a qualidade ambiental. A Matéria é nada mais nada menos do que a Energia Condensada, e a Energia é a Matéria Desintegrada conforme a equação E=m.c.2. Como dizem os físicos quânticos e o próprio Einstein, na linguagem compreensível do cotidiano: as grandes concentrações de energia são captadas na forma de matéria e as pequenas em forma de simples energia. Tudo, portanto, é energia em diversos estágios de concentração e estabilização, em sistemas de relações extremamente complexos, onde tudo está interconectado com tudo, originando a sinfonia universal, as montanhas, os microorganismos, os animais e os seres humanos. Tudo possui uma interioridade indissociável ao mundo espiritual. A Energia é definida como a capacidade de realizar trabalho. O comportamento da energia é descrito pelas leis da Termodinâmica. A primeira Lei da Termodinâmica, ou a Lei da Conservação da Energia, afirma que a Energia pode ser transformada de um tipo para outro, mas não pode ser criada nem destruída. A Luz é uma forma de energia, pois ela pode ser transformada em trabalho, calor ou na energia potencial dos alimentos, dependendo da situação, mas nenhuma parte dela é destruída . A segunda Lei da Termodinâmica, ou a Lei da Entropia pode ser enunciada de várias formas, inclusive a seguinte: nenhum processo que implique uma transformação de energia ocorrerá espontâneamente, a menos que haja uma degradação de energia de uma forma concentrada para uma forma dispersa.
O calor de um objeto quente tenderá espontaneamente a se dispersar no ambiente mais frio. A segunda Lei da Termodinâmica pode ser expressa também da seguinte forma: já que alguma energia sempre se dispersa em energia térmica não disponível, nenhuma transferência espontânea como a luz em energia potencial nas células vegetais para a fotossíntese é 100% eficiente. Isso significa que cada 100 unidades de energia solar incidente numa folha de cana de açúcar, 98 são dissipadas em calor e somente 2 unidades são transformadas em açúcar do tipo sacarose. As várias formas de vida estão todas acompanhadas por mudanças energéticas, apesar de nenhuma energia ser criada nem destruída conforme dita a primeira lei da termodinâmica. A energia que chega à superfície terrestre em forma de luz é equilibrada pela energia que sai da superfície sob forma de radiação térmica, esta taxa de energia também é conhecida como Albedo. A essência da vida reside na progressão de tais mudanças como o crescimento, a autoduplicação e a síntese das relações complexas da matéria. Sem as transferências de energia que acompanham todas essas mudanças nestes ciclos naturais, não poderia existir vida nem sistemas ecológicos. A Entropia (do grego entrope em transformação) é uma medida de energia não disponível que resulta das transformações. O termo também é usado como índice geral da desordem associada com a degradação da energia em suas várias formas.
A Terceira Lei da Termodinâmica diz que num cristal perfeito no zero absoluto (-298K), há somente um estado microscópico possível: cada átomo deve estar em um ponto no retículo cristalino e deve ter uma energia mínima. A terceira lei da termodinâmica é base de compreensão da teoria do caos, em todos os aspectos que envolvem transformação de energia, trabalho e dissipação térmica na forma de calor, tanto no microcosmos quanto no macrocosmos.
Os organismos vivos, os ecossistemas e a biosfera inteira possuem a característica termodinâmica essencial: eles conseguem manter um alto grau de ordem interna, ou uma condição de baixa entropia, isto é, uma pequena quantidade de desordem ou de energia não disponível num sistema. Alcança-se uma baixa entropia através de uma contínua e eficiente dissipação de energia de alta utilidade como luz, alimentos, a duplicação do código genético e a perpetuação das espécies. No ecossistema a ordem de uma estrutura complexa de biomassa é mantida pela respiração total da comunidade que expulsa continuamente a desordem. Dessa forma, os ecossistemas e os organismos são sistemas termodinâmicos abertos, fora do ponto de equilíbrio, que trocam continuamente energia e matéria com o ambiente para diminuir a entropia interna à medida que aumenta a entropia externa, obedecendo assim o equilíbrio das leis da termodinâmica. Como exemplos, podemos citar que um campo de cana de açúcar, para fins de geração de energia do álcool etílico, produção de açúcar, liberação de oxigênio e fixação de dióxido de carbono através da fotossíntese, tem uma condição de Entropia muito mais baixa do que a extração de petróleo num deserto e sua queima posterior. A Entropia é uma função do estado em que se encontra a matéria. A Entropia é a medida da quantidade de desordem dum sistema, interpretada pela seguinte equação : [S=k.ln(w)]. Onde "S" é a Entropia, "k" é a constante de Boltzmann, "ln" é o Logarítimo Neperiano na base "e", e (w) é o parâmetro de desordem de um sistema. Em um processo reversível, a entropia do universo é constante. Em um processo irreversível, como é a queima de combustíveis fósseis, a entropia do universo aumenta. Há uma preocupação generalizada, de que a ação da civilização possa perturbar a diversidade da vida, o clima e o nível do mar, provocando toda espécie de tragédias para o mundo que conhecemos, desde a elevação da temperatura pela queima de combustíveis fósseis e subseqüente degelo das calotas polares, provocando a inundação de regiões costeiras populosas, à destruição da camada de ozônio que protege a vida dos raios ultravioleta mais danosos, até a extinção em massa e desequilíbrio de ecossistemas inteiros com desertificação de grandes regiões onde atualmente existem as florestas tropicais. Essa preocupação é real porque o desemprego estrutural, as várias formas de poluição, a violência nas grandes cidades, o uso de tóxicos, pode ser interpretado como desequilíbrio do ecossistema humano, onde concluímos que a pior forma de poluição é a miséria.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

O PARADOXO DO HORÁRIO DE VERÃO

O horário de verão é um grande desrespeito aos direitos humanos do cidadão. O relógio biológico é um importante indicador de bem estar físico e psicológico dos seres humanos. Principalmente os trabalhadores que acordam muito cedo, a medida é draconiana, autoritária e de resultados bastante duvidosos quanto à economia de energia obtida através deste famigerado horário de verão. Não há nada que diferencie tanto a sociedade ocidental de nossos dias, das sociedades mais antigas da Europa e do Oriente do que o conceito de Tempo.
Tanto para os antigos gregos e chineses quanto para os árabes ou para o peão boiadeiro brasileiro de hoje, o tempo é representado pelos processos cíclicos da natureza, pela sucessão de dias e noites, pela passagem das estações. O processo natural de acender uma lâmpada, uma vela ou um lampião a querosene quando ao anoitecer e apagá-lo ao clarear é um ato que não pode ser regulamentado por decretos governamentais, isto é uma intromissão absurda.
O Horário de Verão é uma intromissão oficial no modus vivendi das pessoas. As instituições que desejarem um melhor aproveitamento dos dias mais longos no verão que o façam de forma individualizada, não adiantando e atrasando os ponteiros dos relógios. O governo deve buscar alternativas energéticas mais eficientes, mais criativas para combater o déficit energético. A educação ambiental no combate ao desperdício deveria começar na Esplanada dos Ministérios em Brasília, sempre com a maioria das lâmpadas acesas durante noites inteiras. O governo deve dar o exemplo de austeridade no consumo de energia.
Os povos nômades do mundo árabe e os fazendeiros costumavam medir, e ainda o fazem, seu dia do amanhecer até o crepúsculo. As estações dos anos são referências em termos de tempo de plantar e de colher, das folhas que caem e do gelo derretendo nos lagos e rios. O homem do campo trabalhava em harmonia com os elementos naturais, como um artesão, durante tanto tempo quanto julgasse necessário.
O tempo era visto como um processo natural de mudanças climáticas. Hoje, o efeito estufa, resultante da queima dos combustíveis fósseis, altera as estações do ano de forma insofismável. Até o início da revolução industrial os homens não se preocupavam em medir o tempo com exatidão. Por essa razão, civilizações que eram altamente desenvolvidas sob outros aspectos dispunham de meios bastante primitivos para medir o tempo, tais como a ampulheta e o relógio de Sol. Todos esses dispositivos forneciam medidas aproximadas de tempo e tornavam-se muitas vezes falhos pelas condições do clima ou pela inabilidade daqueles que os manipulavam.
Em nenhum lugar do mundo antigo ou da Idade Média, havia mais do que uma pequeníssima minoria de homens que se preocupasse realmente em medir o tempo em termos de exatidão matemática. Somente os cientistas e os filósofos tinham esta preocupação com o tempo de forma exata. O homem ocidental civilizado, entretanto, vive num mundo que gira de acordo com os símbolos mecânicos e matemáticos das horas marcadas pelos relógios. É ele que vai determinar seus movimentos e dificultar suas ações. O relógio transformou o tempo, de um processo natural, em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um taxímetro.
E, pelo simples fato de que, se não houvesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria continuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou do que qualquer outra máquina. A princípio, esta nova atitude em relação ao tempo, este novo ritmo imposto à vida foi ordenado pelos patrões, os senhores do relógio, e os pobres o recebiam a contragosto. Na Inglaterra, os operários escravos das fábricas reagiam, nas horas de folga, vivendo na caótica irregularidade que caracterizava os cortiços encharcados de Gim dos bairros pobres de Londres no início da revolução industrial do século XIX. Hoje em dia, de forma muito similar, os operários bebem Cachaça nas periferias suburbanas das metrópoles do Brasil como única forma de lazer. Os homens se refugiavam no mundo sem hora marcada da bebida. Mas aos poucos, a idéia de regularidade espalhou-se, chegando a todos os operários. A religião e a moral do século XIX desempenharam seu papel, ajudando a proclamar que perder tempo era um pecado, porque análise e reflexão no capitalismo, costumam gerar confusão. A introdução dos relógios, fabricados em massa a partir de 1850, difundiu a preocupação com o tempo entre aqueles que antes se haviam limitado a reagir ao estímulo do despertador ou à sirene da fábrica. Na igreja e na escola, nos escritórios e nas fábricas, a pontualidade passou a ser considerada como a maior das virtudes. E desta dependência servil e ignóbil ao tempo marcado nos relógios espalhou-se insidiosamente por todas as classes sociais no século XIX, surgiu a arregimentação desmoralizante que ainda hoje caracteriza a rotina das fábricas. O operário passou a ser um verdadeiro escravo dos relógios e das sirenes. O homem que não conseguir ajustar-se deve enfrentar a desaprovação da sociedade e a ruína econômica, a menos que abandone tudo, passando a ser um dissidente para o qual o tempo deixa de ser importante.
Refeições feitas às pressas, a disputa de todas as manhãs e de todas as tardes por um lugar nos ônibus, trens e metrôs, a tensão de trabalhar obedecendo a horários, tudo isso contribui, pelos distúrbios digestivos e nervosos que provocam, para arruinar a saúde e encurtar a vida dos homens. Nem poderíamos afirmar que a imposição financeira da regularidade de horários tenha contribuído em longo prazo para o aumento da eficiência. Na verdade, a qualidade do produto parece ter até diminuído, pois o empregador que vê o tempo como uma mercadoria pela qual tem de pagar, obriga o operário a trabalhar numa velocidade tal que a produção forçosamente será de qualidade inferior.
O critério passa a ser de quantidade e não de qualidade e já não há mais o prazer do trabalho pelo trabalho. O operário transforma-se, por sua vez, num especialista em olhar o relógio, preocupado apenas em saber quando poderá escapar para gozar suas escassas e monótonas formas de lazer que a sociedade industrial lhe proporciona; onde ele, para "matar o tempo", programará tantas atividades mecânicas com tempo marcado, como ir ao cinema, ouvir rádio e ler jornais, quanto permitir o seu salário e o seu cansaço.
Somente quando se dispõe a viver em harmonia com sua com sua Inteligência e sua Arte, é que o homem com pouco dinheiro conseguirá deixar de ser um escravo do relógio e conquistará sua verdadeira liberdade.