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sexta-feira, 4 de abril de 2008

"SONHAR É PRECISO"


DA NECESSIDADE DOS CALEIDOSCÓPIOS

Meu caro leitor, um instante por favor :
O caleidoscópio é o território do sonho. Um simples gesto, um leve alçar de mão, e uma postura de quem - luneta à vista - perscruta segredos inimagináveis, e o olho itinerante passa do cotidiano, às vezes insosso, às vezes amargo, para o mágico reino das cores e formas cambiantes. Uma imagem diz mais que 1000 palavras.
Nele, as incessantes mutações dos cristais coloridos, as contínuas combinações, o-que-é-agora-não-está-sendo-mais-já-é-outra-coisa, levam-nos à consideração da frase-símbolo de Ortega Y Gasset:

"Eu sou eu e as minhas circunstâncias".

Assim, também, o ser inserido num contexto que, face do que sucede, apresenta um mosaico a cada instante.
Desta forma, o eu e as circunstâncias formam, a cada novo instante, em face da fluidez dos acontecimentos e da interação mútua, um novo e original desenho no painel caleidoscópico da vida.

Não creio haver sido por acaso que me apaixononei pela feitura de caleidoscópios. Estou certo, ao contrário, de que foi uma opção pelo sonho. Um sonho entendido como uma realidade maior. O mundo precisa, cada vez mais, da magia dos caleidoscópios, pois o "Sonho dos Acordados" ainda é o melhor dos sonho. Sonhar é preciso. Construo Caleidoscópios há muitos anos, e acho muito interessante como instrumento filosófico... Sim , isso mesmo "Fi-lo-só-fi-co", e trato do assunto nos meus livros . Vejamos uma passagem : Sir David Brewster, um homem que tinha alma de criança e espírito de cientista. Sir Brewster inventou o Caleidoscópio em 1816, para o encantamento das pessoas. "Caleidoscópio", palavra que vem do grego, significa "Instrumento para admirar o belo",derivada de caleidociclos kalós (belo) + eîdos (forma) + kÿklos (ciclos). Porquê este antigo brinquedo mantém sua capacidade de encantar as pessoas ao longo dos anos?
O caleidoscópio representa, no sentido lúdico, a importância da Transformação e da Permanência num universo sempre cambiante. O Caleidoscópio consiste num conjunto de três espelhos, montados na forma de um triângulo isósceles, tal qual um prisma com fundo opaco. Os fragmentos de vidros coloridos, plásticos, ou pequenos seixos, permitem formar infinitas figuras de rara beleza geométrica, mandalas que jamais se repetem devido às infinitas possibilidades de se re-arranjarem em belos vitrais.

Os livros de poemas e de poesias não são para serem lidos de forma contínua e linear, por uma razão muito simples, cada poema é uma história completa, cada poesia é um devaneio em que o escritor pretende levar o leitor à sua experiência epistemológica, sua interpretação fenomenológica da realidade, cada poema precisa ser degustado, tal como um quindim, como um chocolate existencial, um acepipe para as almas cansadas de maus tratos.

Assim, poesias e poemas ficariam melhor apresentadas nos Caleidoscópios, bordados em ponto cruz nos panos de prato, nas fraldas das crianças, ou impressos nas janelas dos ônibus e metrôs, trazendo influências positivas ao psiquismo das pessoas. Tal qual o caleidoscópio, que a cada movimento, sempre apresenta uma nova mandala, que significa "círculos" em sânscrito, tais como os ciclos terrestres e os lunares, apresentam uma continua variação da mesma realidade.

O homem pelo próprio fato de ser Homem, dotado de racionalismo, criado à imagem e semelhança de Deus, segundo os religiosos ou descendente de um ancestral comum com os macacos, segundo os evolucionistas, deseja ansiosamente entender-se, entender o próximo, entender o mundo e a realidade cambiante do complexo mundo que o cerca. Quanto ao Homo Faber, o homem que fabrica, que está profundamente envolvido com sistemas produtivos mecanicistas, cartesianos e lineares, precisa dos elementos da poesia para viver, para resgatar o seu "eu", caso contrário acaba se confundindo tal qual um elemento de máquinas.
Daí nasce o objeto da filosofia, a atitude filosófica do homem diante da vida é algo natural, não é exclusiva dos filósofos. Assim como na vida real, se desejarmos uma permanência de determinada mandala, o caleidoscópio existencial não poderá ser girado ao longo do tempo, deverá permanecer intocável e imóvel.

Caso haja uma rotação, um movimento qualquer, haverá a criação de uma nova mandala, haverá uma nova Transformação. No mundo ocidental, os filósofos gregos foram os primeiros a perceberem a importância da coexistência da Transformação e da Permanência. Esse problema surge do aparente conflito entre a experiência sensível, que afirma a realidade da mudança, do movimento e da transformação, e a razão que afirma a necessidade de permanência. Por exemplo: os novos produtos que a sociedade de consumo oferece continuamente sugerem Tranformações no modo de vida das pessoas, os produtos descartáveis, porém o cotidiano nos faz lembrar da Permanência única do Planeta Terra no tempo e espaço, daí a necessidade de produtos de alta durabilidade, de alta qualidade.

Assim, a Economia Linear, encontra seus limites no espaço terrestre e nas diferentes culturas, daí gera tantos conflitos de interesses do forte tentando subjugar os fracos, em busca de mais energia, mais petróleo, mais água, mais terras agricultáveis... O conhecimento humano cresceu de forma espantosa nos últimos séculos, passamos a conhecer muitas coisas sobre o microcosmo e sobre o macrocosmo, porém temos cada dia mais inseguranças de qual futuro reservamos aos nossos semelhantes. Os alquimistas, tinham a ambição de transmutar o Chumbo em Ouro e de encontrar a fórmula da "Panacéia", contra todos os males, inclusive o da velhice e da morte. Na realidade, considerando a linguagem metafórica do homem medieval, havia mais do que mera charlatanice ou ignorância, como acusaram os químicos posteriores. Haveria sim, dentro de uma visão holística, fruto do pensamento sistêmico da integração de todas as ciências, um sonho de redenção da matéria que, pela equivalência entre micro e macrocosmo, seria também a redenção da alma humana, libertando o homem das suas ansiedades. O renascimento da alma através de processos evolutivos do espírito humano e o renascimento da matéria através dos processos de reciclagem. Isto não é mero jogo de palavras, porque existe uma necessidade de Permanência num mundo com tantas Transformações.
A ansiedade é contínua, vivida no curto prazo, não se trata de quando haverá uma colisão entre a Galáxia Andrômeda e a Via Láctea, nem quando haverá um impacto de um grande meteorito sem órbita definida, ou quando o Sol começar a esfriar, mas sim quando e onde será o próximo ataque terrorista, quando terminará a guerra no Iraqui, ou como seria possível colocar um ponto final no eterno conflito entre Palestinos e Judeus.

Um fato concreto é que no mundo de hoje, os países ricos investem muito mais na indústria bélica do que na educação, nas artes e na cultura. Uns desejam a Transformação, outros pretendem manter a Permanência do status quo ante, isso é um problema filosófico com várias interpretações. Problemas em que raramente a razão e o bom senso, ou o senso comum são levados em conta. Na História das Civilizações houve filósofos que sustentaram uma ou outra dessas duas posições, em termos exclusivistas. Uns afirmaram que só o Movimento, que leva às Transformações, existe, que a realidade é puro processo em contínua modificação, que não há nada estável no Universo. Outros afirmam ao contrário, e com bastante veemência, o que existe realmente, e não só aparentemente, nunca muda; que a realidade é pura estabilidade e constância.

Heráclito de Éfeso (540?-476 a.C.) sintetiza em sua teoria a corrente daqueles que se basearam na Transformação. Para ele, tudo muda, nada permanece, disse que não se pode entrar no mesmo rio duas vezes. Para Heráclito o fogo (do latim "Ignez") é o elemento que explica a realidade, em seu eterno movimento de destruição e de fusão. Algumas das citações mais conhecidas de Heráclito são:

O sol é novo todos os dias; tudo se faz pelos contrastes e da luta dos contrários nascerá a mais bela harmonia. Os filósofos que explicavam o cosmos a partir da Permanência tiveram em Parmênides de Eléia (540?-450 a.C.) seu principal pensador. Ele ensinou que as coisas não podem mudar, tudo permanece sempre igual. O Ser é o fundamento de tudo: "O Ser é, o não-Ser não é". Parmênides quis provar que a Transformação é um absurdo e, para isto levantou duas hipóteses: Ou as coisas têm sua origem no Ser, que é permanente, e portanto as coisas também são permanentes; ou então elas têm origem no não-ser, no Nada. Ora, provir do não-ser é uma situação impensável, porque do Nada, nada se origina... Logo, o que já existe sempre será. Desta forma, as mudanças são sempre aparentes, ilusórias. Vamos exemplificar o fato: A questão filosófica da Transformação ou Permanência entra em jogo em diversas situações da vida que levamos. Elas são mais próximas e mais freqüentes do que parecem e do que o leitor possa imaginar, assim , o Caleidoscópio serve para todos como uma excelente terapia para se observar as Mutações e as Permanências.

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