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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Cigarros: Sublimes ou Malditos ?

John Wayne estava num set de fimagem lá no Arizona, na terra de Marlboro, subindo uma serra deveras íngreme, ele e o seu cavalo baio muito cansados. Abre o bolço da sua camisa xadrez de cowboy e tira um cigarro Marlboro, dá uma profunda tragada, daquelas que faz o teor da nicotina chegar até o dedão do pé...
- Um suspiro profundo... Arrgghhh... e caí do cavalo baio, que tudo observa atônito. John Wayne, pede para o seu cavalo chamar os para-médicos da equipe de filmagem, que chegam rapidamente, tomam o pulso, respiração artificial, massagem cardíaca para reanimar o desanimado e semi acordado John Wayne. Que balbucia, e babando as suas últimas palavras, o seu derradeiro desejo: - Please me one fag, gimme one fag, the last one cigarette... please now... O cavalo providencia e acende o isqueiro, numa profunda tragada John Wayne, tomba desfalecido, abandonando o set de filmagem da terra de Marlboro para sempre.
MORAL DA HISTÓRIA " Se o seu vício atrapalha o seu trabalho, pare de trabalhar..."
A história acima é uma lenda, imitando Guimarães Rosa, diria que uma mentira é a do que mente e a outra é do escutador. Fumei muitos anos, era muito gostoso, mas terrivelmente difícil de deixar de fumar, que vício malígno. Nos anos 70 eu vi o saudoso Ministro Mario Henrique Simonsen fumar Minister e tomava em algumas talagadas uma meia garrafa de wiskey Logan. Era um Keinysiano convicto, um homem profundamente erudito, engenheiro civil, economista, físico, gostava de música clássica, entrava nos domínios da tese de doutoramento em Sorbonne de Nicholas Georgescu Regen sobre Entropy and Economic Process. Não sei se era eu que me impressionava demais com palavras nos meus vinte anos ou o Ministro que era o rei das cocadas, mas o banqueiro impressionava quando defendia o Estado do Bem Estar Social, o Well Faire State , gostava do tal do Keines. Entre uma tragada e uma talagada ia derivando sobre a função do Estado. Talvez este Ministro, que também era banqueiro, nem fosse tão convincente assim, mas jamais vou esquecer das suas articuladas entrevistas e palestras, perto dos que o sucederam... Os sucessores - vae victis -, acho melhor pular este capítulo, é melhor deixar para lá.

O tempo passou, o tempo voou, e nem a Caderneta Bamerindus continuou numa boa, foi comprado pelo Banco HSBC e o homem do chapéu Panamá, que não se conformava em perder o seu Banco, o Bamerindus, não conseguiu entrar numa linha mole de créditos podres na época que o FhC salvou bancos e tamboretes como o Banco Marka e o Banco Fonte-Sindan, num dos capítulos dos mais obscuros do capitalismo da Terra Brasilis, num ad nauseam prende e solta o Salvattore Cacciola, o banqueiro dos habeas corpus. Mas, quando o Ministro Simonsen falava o pessoal abaixava as orelhas e o escutava respeitosamente, depois disso muitos ministros o sucederam, mas nenhum com a sua maestria, sapiência e erudição. O tempo foi severo com Mario Henrique Simonsen, morreu de câncer com poucos 57 anos, morreu jovem. Banqueiro é uma raça execrável, é bem verdade, se existe inferno como descrevia Dante Alighieri na Divina Comédia, tem Banqueiro queimando no sétimo nivel da ganância e da avareza, mas confesso que gostava do tal do Simonsen.
Pouco tempo depois, com 66 anos meu pai morreu de enfisema pulmonar. Tinha uma tosse terrível e incurável que parecia desejar ansiosamente expelir a alma aflita, eram duas carteiras de Continental por dia. E em seguida meu ex-sogro morreu de câncer no pulmão com 57 anos, três carteiras de cigarros Plaza por dia, fumou até o fim. Antes da radioterapia, fugia para umas tragadas escondidas no banheiro do hospital. Acompanhei bem de perto estes processos de extinção, foram muito deprimentes, degradantes. Nesta época é que deixei de fumar, tinha uns 30 e poucos anos. Mas, gostaria de enfatizar que foi extremamente difícil deixar o maldito vício. Foram muitas tentativas frustradas, muita ansiedade, muito sobrepeso. Fumar é um habito realmente nojento.

Houve avanços na área de combate ao tabagismo com o Ministro José Serra, sem dúvidas. A coleção de fotografias que são gravadas nos maços, tem um impacto visual bastante significativo, são fotos com mensagens impactantes "de facto", que fazem lembrar todos os males causados pelos cigarros. Mas, uma coisa que acho que poderia funcionar, seria elevar o preço do cigarro. No Brasil, os cigarros são muito baratos, extremamente baratos, pouco mais de US$ 1,00 (apenas um dólar) por maço, é muito pouco. Talvez um valor de uns R$ 10,00 (Dez Reais) poderia ser um auxiliar financeiro para os que estão em dúvidas sobre largar o famigerado vício.

Nas últimas semanas, tivemos 228 baixas no trágico voo do Airbus A330 da Air France, mais o Michael Jackson e a Farrah Fawcett Major. Acho que a mídia foi tendenciosa com os últimos célebres falecidos. O Michael Jackson teve ampla cobertura enquanto a divina Farrah Fawcett Major só um canto de página e poucas linhas nos obtuários, ela era uma Pantera nos anos 70.
O outro, que era negro puro sangue, foi ficando branco como se tomasse banhos diários com água sanitária alvejante Q-Boa. Também não sei se eles fumavam ou não, mas foram 230 baixas significativas no mes. Entre todos estes mortos, não há feridos, eu estou vivo, mas sinceramente sinto muito por todos, meus sentimentos.

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