Todo brasileiro deveria ser vacinado com uma dose de 500mg de accountability, após todas aquelas vacinas que são aplicadas na primeira idade, (tomei todas) deveriamos tomar uma dose de "accountability". Não sei se o Instituto Butantã já possui esta poderosa vacina ou mesmo a Fundação Oswaldo Cruz a Fiocruz, mas os seus sintomas, embora subjetivos são muito bem sentidos. Sim, bem sei que poderei ser acusado de abusar dos anglicanismos, a língua de Shakespeare, mas não há similar correspondente na problemática língua de Camões, a última flôr do Láscio que insistem em não deixar fenecer, embora haja sofrido tantas malditas reformas ortográficas. A falta da tal de accountability não é uma vacina contra a gripe suína, para inocular o temível vírus A(H1N1), embora este já tenha apanhado pernambucanos e alagoanos além de alguns Corinthianos.
Não, "accountability", não está na farmacopéia da Terra Brasilis, nem no herbanário do Zé Baiano. Deverá ser aplicada na matéria de Filosofia Experimental. É, aquela mesmo, que todos acham uma matéria inútil, que não serve para nada, que só cria confusão desde a antiguidade, prova irrefutável é que a maioria das estátuas de Filósofos gregos estão com o nariz quebrado. Mas, vou dar um exemplo do que a falta de accountability proporciona no nosso mesquinho e comezinho cotidiano.
Outro dia, precisei contratar um pintor, não peguei as dez referências necessárias e contratei um cara de caranuê que me pareceu confiável. Putz, o maledetto era um genuíno porco imundo no mundo das pinturas e das lambrecagens. Não começou no dia combinado, fez um orçamento muito caro, com falta de alguns materiais e excesso de outros, pediu adiantamentos fora do combinado. Trabalhava dia-sim-outro-no-bar, e já comprou um celular com o adiantamento e ficava a namorar. Pensei que poderia delegar a responsabilidade final da pintura da casa para o maledetto, e fui para uma feira de livros. Tinha mesa redonda (embora esta fosse retangular) para as costumeiras e insossas considerações, copos com água mineral, jornalistas, filmagens, fotógrafos e tele-coisas. Quando eu voltei dali, vi o serviço que havia sido feito na minha ausência, tive vontade de amassar a cara do sujeito com os jornais emplastados de tinta e massa plástica. Aliás, hoje em dia, uma das poucas utilidades dos jornais tem sido cobrir o chão nos processos pictóricos. O cara de caranuê me pintou os vidros, o varal de roupas, a cara do meu cão labrador, lambrecou os banheiros, e mais aquele bafo de cachaça. Tive de dispensá-lo no meio deste pitoresco processo pictórico e, eu mesmo terminar todo o serviço, não dá mais para se confiar nas pessoas, está faltando accountability nas relações humanas de forma ampla geral e irrestrita.
Pensei sobre a importância da imprensa nos dias atuais, as noticias são tragadas de uma forma tão rápida que as novas de hoje, são as velhas de ontem. O Senado e o Congresso estão acéfalos, eles não trabalham, ficam se enrolando em Comissões Internas de Ordem e Regimentos, muitas falcatruas, maracutaias, são as ziguiziras da democracia. Outro dia assisti na TV um Senador da ala ética, que dizia não saber que não poderia usar verbas para pagar passagem da namorada até Paris. Um papo das aranhas, era um sujeito que esqueci o nome, com uma cara de arenque defumado, disse que iria devolver os valores, ora pois...
Oh... Querem passear, namorar às margens do Rio Sena, ver o Arco do Triunfo. Este pessoal querem ajuda de custo até para tomar um capuccino na Place de La Concorde. O "Auxílio Capuccino"...Ora, Sancta Patientia, ganham bem, são de famílias abastadas, oriundos das antigas e eternas oligarquias, são todos sujeitos de boa lábia e de boa pecúnia também, mas precisam dar mais um beliscão no erário, é falta de accountability, não é sintomas da gripe suínas nem de resfriados porcinos. Já houve casos de Ministra que queria rezar lá em Buenos Aires, usando jatinhos 'Lear-Jet', custe-o-que custar, é demais. Serviço público pesadão, caro, ineficiente, cartorial e burocratizado ao extremo.
Em administração pública, via de regra o termo accountability está vinculado a uma delegação de poderes. Presumivelmente, o indivíduo ao qual se atribui reponsabilidade recebe autoridade comensurável, e mesmo que delegue responsabilidade e autoridade a terceiros, será ainda o responsável final perante seu superior. Se numa mesma frase encontrássemos os termos responsibility e accountability, poderíamos dizer que a primeira é responsabilidade primária e que a segunda é responsabilidade final. Mas, que nada, não se pode delegar, temos que ficar em cima do lance, custe-o-que-custar, e se cair na pequena área é penalty, aplicar as leis. O nosso lema, depois dos 4R's, Rejeitar, Reusar, Reciclar, Reduzir, e, temos o tal do Dura Lex Sed Lex, e pinturas só em Latéx, é claro.
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