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segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Sociedade em Transe

Toda sexta-feira à noite começa o shabat para a tradição judaica. Shabat significa 'contra ritmo' em hebraico. Um conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino no sétimo dia da Criação. Muito além de uma proposta trabalhista já conquistada em grande parte das sociedades do planeta, o shabat entende a pausa como fundamental para a saúde de tudo que é vivo. A noite é uma pausa que foi perdida há muito tempo na sociedade que vira turnos. Até hoje nunca encontrei uma pessoa sequer, realmente adaptada ao regime de turnos. O que se observa é uma adaptação forçada pelas contingências da vida moderna e dos processos contínuos da Economia Linear que não podem parar. Para a grande maioria o mês passa rápido, porém menos rapidamente que o salário. Para uma minoria em que o salário dura mais que o mês, não há tempo para desfrutar este excedente de ganhos. Quando se percebe o ano já passou. Do jeito que vivemos não tardará muito, o milênio já se foi.
O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair literalmente, "tornar desatento". É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que se fazem as famílias no descanso: - O que vamos fazer hoje ?
É marcada muitas vezes por ansiedade. Muitos sonham com uma longevidade de 120 anos quando não sabem o que fazer numa tarde de domingo. O tempo por não existir faz mal a quem quer controlá-lo. Quem ganha tempo, por definição sempre perde. Por outro lado, quem mata tempo, fere mortalmente um princípio do capitalismo. O que envelhece as pessoas é a ilusão de fazer do tempo uma mercadoria ou um artigo. A pausa é que dá o sentido à caminhada, a pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois.
Onde não há pausa, a energia vital lentamente se extingue. Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia ainda não é o suficiente; onde o meio ambiente e a terra pedem uma pausa; onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo. Quando tudo é urgente, tudo é para ontem, o shabat se torna uma necessidade do planeta. A terra viva, segundo a teoria Gaia, nós e nossas famílias precisamos da pausa para revigorar as energias. Prazer, vitalidade e criatividade dependem destas pausas que estamos negligenciando. Hoje o tempo de "pausa" é preenchido por diversão alienante. O lazer não é feito de descanso, mas de ocupações para não deixar de consumir. A própria palavra "entretenimento" indica o desejo de não parar. É a busca de algo que nos distraia para que não possamos estar totalmente presentes.
Estamos cansados mesmo quando descansando. A incapacidade de parar é uma forma neurótica em que o tempo é dinheiro. O lazer massificado baseado em pacotes turísticos, com tempo cronometrado para visitação nos museus, paradas programadas para fotos, visitas programadas para monumentos, filas para a roda gigante, filas para o trem bala, longas esperas em aeroportos, minuciosos check-in. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dias com gosto de vazio; um divertimento que não é nem ruim nem bom. Dias prontos para serem esquecidos, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo, este é o lazer pós-moderno.
O novo milênio traz um mundo em que as metrópoles viraram um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. As bolsas de valores do Ocidente e Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, uma atividade neurótica e incessante. Hoje não se consegue parar a não ser que seja no fim. Mas as paradas estão para toda caminhada e por todos os processos. No pensamento linear o tempo utilizado em manutenção de máquinas e aviões é considerado um tempo perdido, que deverá ser minimizado continuamente, porém este é o tempo de descanso das máquinas. Matematicamente, tudo o que é minimizado continuamente, no limite, tende a desaparecer.
Este paradoxo do capitalismo torna-se perigoso quando tratamos de manutenções de aeronaves, por exemplo. A manutenção preventiva dos aviões envolve operações bastante sofisticadas, envolve conceitos de Engenharia de uma máquina que não pode falhar, porque não pode parar durante a operação. A competitividade cada dia mais exacerbada motivada pela insana ganância da Economia Linear proporcionou contínuo aumento da utilização dos transportes aéreos. Empresas aéreas recém criadas com ascensão e quedas meteóricas, cujos prêmios que recebem da mídia perdulária são proporcionais aos acidentes aéreos. Já é hora do ANAC , A Agência Nacional de Aviação Civil, tomar ações com os freqüentes acidentes envolvendo aviões de linhas comerciais, são muitas panes, no curto prazo, faltam respostas claras. No mundo, a maioria das empresas aéreas são deficitárias, elas apresentam o que se chama a falha do mercado. Neste caso, é imprescindível a ação firme do governo nas ações que forem necessárias. O mercado não tem a virtude de se auto-regulamentar, num ambiente de extrema competitividade. As empresas aéreas precisam oferecer tarifas competitivas, qualidade nos serviço de bordo, pontualidade nos horários, pagar bons salários, garantir horários de descanso dos pilotos e comissários, manter as manutenções das aeronaves em dia e gerar bons lucros para a satisfação dos acionistas, são muitos objetivos para serem atingidos simultâneamente. Certamente a pausa para o descanso das aeronaves na manutenção não está sendo obedecida. Quanto às reivindicações trabalhistas, são desprezíveis no mundo globalizado onde há excesso de mão de obra. Todos estes fatos fazem parte do medonho cotidiano pós-moderno, na chamada "sociedade de mercado". Portanto, sejamos realistas, quem tem maior importância, maior poder decisório, nas operações das empresas aéreas? O Gerente Financeiro ou o Gerente de Manutenção ? Dentro da Economia Cíclica é imperioso que seja o Gerente de Manutenção, porque este deverá saber a hora de parar os aviões para a manutenção, independentemente dos compromissos contínuos das vendas de passagens, se uma sonda pitot precisa ser trocada, pare o avião, até o serviço de manutenção ser realizado corretamente. Mas,
sem acostamentos para fazer manutenções nas rotas aéreas, a vida nas empresas parece fluir mais rápida e eficiente quanto mais justos forem os horários entre os voos e as escalas. Porém, manutenções negligenciadas, falhas humanas dos pilotos e dos controladores de vôos devido à falta de pausas para a manutenção humana e das máquinas são desastrosas.
Enquanto os passageiros estão dormindo, entretidos com seus jornais, assistindo filmes, fazendo refeições ou tomando drinques existem milhares de componentes eletrônicos, mecânicos, elétricos e hidráulicos trabalhando de forma integrada com os fatores humanos, sociais, econômicos; interações bastante complexas entre homens e máquinas em vários níveis de responsabilidades e complexidade. Uma simples sonda medidora de velocidade do tipo "pitot" pode congelar e colocar um grande Airbus A320 com 228 pessoas no fundo do oceano.
Nos Airbus, milhares de informações são trocadas entre os diversos computadores de bordo com as torres de controle terrestres, entre GPS com os satélites. As falhas são inerentes às maquinas, portanto para se elevar o padrão de segurança dos transportes aéreos o tempo de manutenção das máquinas e o tempo de descanso dos funcionários deverá ser rigorosamente obedecido pelas empresas e revisado pela ANAC, mas não é o que se verifica no cotidiano; as falhas humanas e mecânicas têm aumentando significativamente. Os erros acontecem num tempo infinitesimal, porque os olhos não têm muito tempo para ver e recorrer à memória para recuperar o que a retina apreendera e reavaliar as informações. O futuro está tão rápido que se confunde com o presente. Para exemplificar esta velocidade espantosa nas tomadas de decisões, citamos o futuro trágico do avião da Air France que ocorreu em 31 de Maio de 2009. O piloto do avião Airbus A320 teve apenas 4 minutos para avaliar e processar uma informação errada dos medidores de velocidade Pitot, acabou desviando da rota de forma trágica, causando a morte de todos os 228 passageiros, na maioria executivos que iriam a Paris. Por outro lado, os pilotos russos exigem melhores condições trabalhistas. Segundo matéria publicada por ITAR-TASS World Service Russia, Sábado, 28 de Fevereiro de 2009 de acordo com a Aeroflot, mais de 160 comandantes e co-pilotos voando aviões de grande porte como A320 e Boeing-767 assinaram um recurso solicitando melhores condições de trabalho. Esses pilotos são os de maior procura. disse a fonte do jornal RBC Daily, acrescentando que os atendentes de voo podem participar no protesto, porque têm de conciliar-se com violações de normas trabalhistas. Não haverá greves, estas estão proibidas na legislação russa, disse outro representante da transportadora aérea Aeroflot, na condição de anonimato. No entanto, se as demandas dos empregados são ignoradas, várias dezenas de membros da tripulação que podem instantaneamente serem afastamentos do cargo no mesmo dia. Além disso, algumas aeronaves permanecerão em terra devido ao menor número de defeitos críticos, pois eles são um motivo suficiente para que o comandante da aeronave declarar que esta "não é operacional". Os funcionários da transportadora aérea reconhecem que as regras na Rússia sobre o tempo de voo, são regras obsoletas e devem ser revistas - que deverão ser mais rigorosas ainda, é claro. "Na Rússia, um piloto civil é autorizada a passar no ar não mais do que 80 horas por mês. Na Europa e países da América do Norte o limite é fixado em 100 horas por mês e 120 horas por mês, respectivamente," como afirmou no diário Vremya Novostei o Diretor-Geral Adjunto da Aeroflot, Lev Koshlyakov. Como será que anda estas regras de voo aqui no Brasil ? Esta notícia é omitida dos jornais e dos noticiários na TV.

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