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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Firmitas, Utilitas et Vetustas

Hoje, 28 de Janeiro de 2009, a Lua Vazia indica que devemos gastar um pouco de Latim, se preciso for. Foi com muito pesar que soube do desabamento da Igreja do Renascimento em Cristo no Cambuci em São Paulo na semana passada. Foram nove vítimas fatais além de quatro pessoas bastante feridas, ainda em estado de risco nos hospitais, além dos vários danos materiais. Farei algumas modestas reflexões sobre o assunto que espero ser de alguma valia, afinal, para qual serventia escrevemos ? Para que tomem alguma providência ! Já dizia o imortal Carlos Heitor Cony, grande escritor, um mestre nas crônicas, são magníficas. Suas crônicas vão sendo apuradas como aquele doce de leite, feito no tacho, lá em Minas Gerais, até chegar à um ponto de pasta de dar água na boca. Pois é, um dia chegarei lá, um dia. De certa forma, escrever é uma necessidade de ter um registro na linha do tempo, para as coisas não passarem batidas, desapercebidas, apesar que um registro escrito que não seja lido e levado a alguma ação, ou reação, a mudança de atitudes, não servirá para nada, absolutamente nada de neres. Mas, por outro lado, vamos analisar os fatos de forma isenta, e com alguma dose de sensatez. Mas vamos em frente, que atrás vem gente. Vale a pena relembrar as sábias palavras de Vitrúvio, o grande Arquiteto de Augusto César, que antes de Cristo já disse: "As coisas para permanecerem devem ser dotadas de "Firmitas, Utilitas e Vetustas", isto é , firmeza, utilidade e beleza. Devido a complexidade do assunto, este deverá ser "integrado por partes". No item "Vetustas ou Beleza" a nossa Arquitetura é generosa, bela e formosa Temos grandes projetos de inusitada beleza e originalidade que não ficam em nada a dever à outros países. Seria cansativo enumerar os vários projetos de rara beleza da Arquitetura Brasileira. Eu, particularmente, muito aprecio a Catedral Metropolitana de Brasília, O Museu Oscar Niemeyer de Curitiba e o Museu de Arte Contemporânea em Niterói, Rio de Janeiro, este último, uma das pérolas do grande acêrvo de Oscar Niemeyer. No item "Utilitas", em termos de utilidade, a nossa arquitetura é elitista, tem que se popularizar mais, temos um enorme déficit habitacional, com assentamentos irregulares, invasões, não temos uma política habitacional, e os loteamentos clandestinos, vão sendo "oficializados" através das circunstâncias de instalação de água, esgotos e energia elétrica. O índice de favelização é muito alto e as casas populares são de qualidade muito baixa. Não sei como este assunto é tratado nos países do Leste Europeu, porque a grande mídia nada informa a este respeito, ou mesmo, "desinforma". Mas no ítem "Firmitas" a firmeza das nossas obras, os nossos indicadores são péssimos. A Igreja do Renascimento em Cristo, teve o seu teto desabado devido ao fato das tesouras, as estruturas de sustentação não suportaram o pêso próprio e veio tudo abaixo. Observou-se nas primeiras verificações do perito que as as tesouras e as terças inicialmente de madeira, estavam apodrecidas e com muitos cupins, umidade, grande peso extra foi adicionado pelos reforços em aço e pela fixação de ar condicionado a posteriori do projeto inicial. Então, nesta empreitada, o cálculo estrutural inicial foi para o espaço sideral, faltou manutenção e substituição da estrutura de madeira por uma nova em AÇO. Um fato que deve ser bem considerado, é como todos os prédios de Moscou, as pontes os viadutos os edifícios são bem feitos, tudo muito sólido, observo muito bem isto nos filmes, um padrão de engenharia realmente bom. Aqui no Brasil, as nossas edificações ficam devendo no item "Firmitas" são muitas marquises que sempre estão caindo nas cabeças dos transeunte, tetos que desabam, edifícios que caem sem nenhum terremoto. É necessário mudar muitas coisas para melhorar o padrão de engenharia civil que anda muito precário. Em primeiro lugar, o CREA, o conselho regional de engenharia precisa ser um órgão de poderes mais executivos do que cartoriais, não somente um cobrador de RT's (Responsabilidade Técnica) e de anuidades. O CREA precisa ser o braço direito do Governador e do Prefeito nas ações de fiscalização e embargos de obras que não oferecem segurança pública. Segundo, existe uma cultura generalizada em bypassar o trabalho do engenheiro civil, pessoas que não são habilitadas fazendo projetos de engenharia que são uma temeridade. Terceiro, são os projetos ruins, mal elaborados, cheio de opções que aumentam o risco em detrimento da segurança. São projetos que economizam no cimento, colocam areia de baixa qualidade, as vezes até da praia, britas ruins de calcário de baixa resistência mecânica ao invés de brita de granito, mão de obra mal treinada ou totalmente iletrada. Então, a Economia, que deveria ser a base da prosperidade, se torna a base da Porcaria. Todos estes itens vão se somando, e embora Deus seja brasileiro, se o cálculo estrutural falhar, o teto vem abaixo na cabeça dos fiéis. Como já sabem, a Física, tem leis muito rigorosas, onde não há perdão. Assim sendo, um país que pretende sediar uma "Copa do Mundo", que se propõem a empreitadas tão audaciosas como esta, deverá ter um sistema de verificação das arquibancadas dos estádios à altura do seleto público que virá nos visitar. É bom saber, como estão nossos estádios em termos de segurança de arquibancadas, de estruturas de concreto, dos banheiros, das vias de acesso, estacionamentos, segurança, higiene etc. Estamos aplicando o lema de Vitrúvio o "Firmitas, Utilitas et Vetustas" ? Não sei se devo economizar o meu Latim, e deixar isso para lá, mas é bom lembrar que cavalo não desce escadas.

Um comentário:

yasmin disse...

Obrigada por sua visita no meu blog!

Sobre as suas indagações, as fotos são de gadgets fornecidos pelo serviço do Blogger, meu PC jurássico infelizmente não tem recursos para fazer upload de qualquer arquivo... assim fico lhe devendo (por enquanto!) as imagens - mas não se preocupe, fantasma não sou! rs

Extremamente oportuna a sua alerta sobre as falhas cometidas no mundo da engenharia civil. Perdoe-me a ousadia, e permita-me acrescentar o item HONESTIDADE. Se cálculos estruturais falham ou são irresponsáveis, se a ganância economiza no material, se fiscalização das obras é deficiente ou omissa... tudo isso muitas vezes estão a serviço do famoso "jeitinho brasileiro" que resvala perigosamente na falta de moral e ética, na impunidade da justiça. E somente a pressão da opinião pública é capaz de reverter esse quadro lamentável, pois o 4º Poder (a imprensa) tem memória tão curta como as demais.

Um grande abraço!
yasmin