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quinta-feira, 26 de março de 2009

Crematorium

Hoje, 26 de Março de 2009, um mês longo e aziago. A Lua Nova, indica a necessidade de renovar velhos costumes, isso significa REJEITAR alguns costumes neste mundo problemático, dentro da nossa política ambiental dos 4R's. Neste mês tivemos acidentes aéreos variados, um deles, um bimotor com sete passageiros, aterraram num cemitério nos Estados Unidos. Se neste local tivesse um gramado, quem sabe o pouso não seria tão forçado assim e talvez um sobrevivente ao menos. Mas achei a aterrissagem, assim, diretamente no cemitério, uma forma muito radical de sair desta para uma melhor, quem sabe para uma outra encadernação.
O Rock, sinceramente, gostaria de saber como está o rock`n´roll na Rússia, me parece que esta banda "Crematórium" é muito poderosa por lá. Todavia, o assunto de hoje é os "Crematórios" de facto, sou contra os enterros convencionais de pessoas falecidas em cemitérios também convencionais. Acho uma cerimônia muito triste, complicada e cara demais, lápides, jazigos, placas de granito, muito bronze, gavetas, sem falar que é um terreninho em que o metro quadrado é o mais caro do mundo. E as pessoas, aturdidas pelas emoções momentâneas, não percebem os valores exorbitantes, escorchantes, que são cobrados pelos serviços corvinos e além disso tem os graves "problemas ambientais" que os cemitérios proporcionam, à comunidade. Estes, são de difícílima solução, trataremos o complexo assunto - por partes -, como fazia Hannibal Lecter.

O defunto, após a decomposição das sua matéria orgânica, retorna ao seu estado de sais minerais, e neste processo de decomposição e de transição celestial, ou mesmo infernal, há liberação de um líquido viscoso, nojento e nauseabundo, chamado de "chorume", que pode percolar (ver dicionário, rápido!) até o lençol freático e contaminar a nossa preciosa água potável. E este chorume emana de todos os defuntos, independente de suas classes sociais, das qualidades ou virtudes ou dos seus vícios. O chorume também independe do volume das lágrimas que foram derramadas (ou não!) pelo defunto ou defunta no seu dia derradeiro. Eu sei que o assunto é chato e insalubre, mesmo, mas é necessário tratá-lo com rigor. Análises geoquímicas já comprovaram que muitos, a maioria dos cemitérios não tem EIA-RIMA (ver no Google!) nem monitoramento dos lençóis freáticos que são poluídos de forma desnecessária e inconveniente, com bactérias, vírus e vibriões de tipos diversificados. Eu uso da ironia nas minhas crônicas, mas este assunto é muito sério, me desculpem mas não sei tratar destas coisas sem uma pitada de humor. Consigo achar engraçado até a peça Hamlet de Shakespeare, uma vez mais, me perdoem, é algo de nascença.

Mas, voltando aos cemitérios, a tranformação dos antigos e saturados cemitérios em parques temáticos, Áreas Verdes de convívio familiar é uma das propostas da nova Economia Cíclica que poderá se estabelecer um dia. - Imagine um enorme cemitério cheio de concretos, cruzes, credos de bronze, gavetas, mármores e granitos, sendo demolido nos grandes centros urbanos para dar lugar à uma área verde, é uma idéia saudável, mas segundo o Karl Marx, o que as grandes revoluções nunca conseguiram debelar, foi a teimosia e a ignorância do espírito humano. Indubitávelmente, esta idéia é boa, mas num regime democrático, as resistências são enormes, bem sei o terreno pantanoso onde estou pisando. A questão cultural precisa ser trabalhada, o que restaria para as pessoas como lembrança daquele local onde jazia os restos mortais dos seus entes queridos? Talvez uma placa de granito ou em bronze fundido com a reciclagem de todos os bronzes da demolição e uma lista dos nomes, tal e qual os monumentos aos soldados desconhecidos. Uma coisa que não é do meu métiè, isso é a praia dos Arquitetos, certamente teriam idéias melhores do que as minhas, eles tem formação apropriada para isto. Mas, a evolução humana exige a quebra de antigos paradigmas, e este é um deles. O que fazer com os saturados cemitérios ? Primeiramente, teria que haver um abaixo assinado de todos os que possuem uma fração, que não é nada ideal, cessando os direitos daquele espaço e doando-os em prol da comunidade.
O Estado, nesta proposta 'Socialista' administra esta transição, pois este assunto é eminentemente político e religioso, depois vem a área técnica de demolição, de elaboração de projetos, inclusive com a participação dos antigos proprietários em assembléia, uma parte mais fácil, creio eu. Não sei se estou viajando muito, mas somente vejo benefícios nisso tudo. Em pesquisas nas edições das Testemunhas de Jeová, na Biblia não há nada explícito de como devem ser tratados os corpos, nem contra as cremações, os Budistas e Hinduístas são praticantes da cremação. Mas existem outras religiões, e não desejo me meter nesta árida seara, necessáriamente este assunto deverá ser tratado de forma democrática, em sintonia com as lideranças políticas e religiosas. Mas, o Estado deverá tomar uma atitude de coordenação no tema.

Certamente estas áreas estão sendo mal aproveitadas de forma "Ecológicamente Incorreta".
A medida que a população humana se aproxima dos sete bilhões temos que se preocupar com os seres viventes, com a qualidade de vida das novas gerações chegantes. E nas grandes cidades há falta de áreas disponíveis para novos parques, jardins e praças. Assim, a tecnologia moderna, oferece a opção dos "Crematórium", eu vejo com muito bons olhos este processo de cremação, algo bastante simples, útil e rápido. Lembre-se que do "pó viestes e ao pó retornarás", somos feito do pó das estrelas, que segundo Kepler não estavam em órbitas correta, e entrou em colisão com outra estrela, então já começamos errando e errantes neste Universo sem fim. Acho que não estamos só neste Universo sem fim, e acredito na imortalidade da alma tal como Imanuel Kant, já cantava em seus devaneios na Crítica da Razão Pura. "Mas o que haverá nesses Mundos se não são habitados? Nós ou eles somos os senhores do Universo? E terão sido feitas todas estas coisas só para o homem? São perguntas sem respostas...

Mas não vamos entrar na anatomia da melancolia dos enterros e funerais, tema funesto num mês detestável que já teve sexta feira 13 com acidentes aéreos variados. Os sais minerais dos seres humanos podem fornecer um excelente fertilizante, com altas concentrações de Cálcio, Fósforo, e o Potássio, entre outros, um excelente adubo para a lavoura. Aos mais sofisticados e cheios de não-me-toques, podem guardar as cinzas dos seus antepassados num fino vaso de porcelana chinesa, da dinastia 'Ming'. Os mais modestos numa porcelana mais popular, comprada na Casa China ou usar as cinzas para adubar um pé de laranja lima, cujos frutos eram os mais doces e predilectos do saudoso fornecedor das cinzas. Em resumo, cada um faz das cinzas dos seus entes queridos o que melhor lhe convier. Os de temperamentos mais quentes podem jogá-las ao sopé dos Vulcões Mauna Loa, Mauna Kea ou até dentro da cratera do Kilauéa, sempre muito ativo lá no Hawaii. Os mais reservados e de temperamentos frios, quiçá nas proximidades das cordilheira dos Andes ou na cadeia do Himalaia? Ou mesmo na Serra do Mar se preferir, só não vale o problemático cemitério de Jàcárépàgüá lá no Rio. Este é um dos que deveriam ser demolidos, com certeza. Tem também o Atol de Mururoa, que não deixa de ser uma opção muito requintada, um jazimento do seus pós lá nos mares da Polinésia Francesa, onde habitam aquelas nativas lindas, dançando o ula-ula com os seios à mostra (pontudos como mísseis balísticos inter-continentais), que tal ? Muito marketing poderá ser criado neste tema, até um jazimento na Lua para os defuntos de excelente pecúnia, se quiserem pagar uma viagem até o Mar da Tranquilidade, é garantia de um funeral muito chic e sui generis.

Os fornos de cimento poderiam ser testados neste processo de extinção dos corpos. Os fornos de cimento precisam de muitas kilocalorias, possuem uma entrada chamada de "caixa de fumaça", o morto, bem embalado, seria colocado em um equipamento muito semelhante a uma catapulta, então vapt-vupt e estará lá na zona de queima com 1450ºC. Para os parentes do defundo, apenas uma pastilha de Raio-X, com o marketing das empresas envolvidas, é claro que o capitalismo não perderia uma oportunidade destas, também forneceriam a dosagem dos óxidos do cimento fabricado naquele horário da postagem, coisa que poderá ser calculado com precisão. Todos os óxidos CaO...%, Fe2O3...%...SiO2...%, Al2O3... TiO2...%...Na2O...%, K2O...% analisados no Raio-X para serem relembrados nas horas de saudosismo, é uma lembrança muito sublime.

Sem dúvidas, as fábricas de cimento tem feito vários serviços sociais, para compensar a sua forte colaboração com o efeito estufa no aquecimento global, é bom lembrar que para cada kilograma de cimento produzido, setecentas gramas de dióxido de carbono são liberados na atmosfera (somando o CO2 da descabonatação com o do Carvão ou do Coque). Já reciclaram nestes fornos, pneus, sobras industriais, resíduos tóxicos orgânicos de diversas procedências , até maconha e cocaína já foram incinerados nestes fornos, não custaria fazer um teste deste tipo. Lembrem-se: 'O que a modernidade mais valoriza depois do pó branco, é o pó cinzento'.
Como o perplexo leitor pode observar, as opções do que fazer com o pó são várias, o estimado Keith Richard do Rollings Stones cheirou as cinzas do seu pai misturada com cocaína, e achou muito bom, outros podem apenas colocar as cinzas em uma horta de produtos orgânicos, não sei se estas opções dariam um bom marketing, mas tem gosto para tudo neste vasto mundo. Pois é...

E para finalizar esta prolixa crônica, um poema de Cecília Meireles, que considero um resumo de uma verdadeira cosmologia, uma teologia condensada, a revelação do nosso lugar e do nosso destino:
No mistério do sem-fim, equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim, e no jardim um canteiro:
no canteiro, uma violeta, e sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim, a asa de uma borboleta.

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