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sábado, 7 de março de 2009

O Papel (Higiênico) de Keines na Economia Sustentável

Há um século, uma pessoa comum gerava apenas uma pequena quantidade de informação em sua vida, talvez um monte de cartas e um álbum de fotografias. Agora somos inundados por informações desde a mais tenra idade, como o leitor pode ver na foto acima. Por outro lado somos responsáveis pela escrita de milhares de documentos em papel, originais e fotocópias, uma miríade de blogs que se multiplicam diuturnamente como larvas.
Porém, no momento sagrado e sublime que o cidadão está no banheiro, ao invés de ficar olhando para a decoração do azulejo, poderá ler um briefing de notícias da companhia em que trabalha, uma resenha poética, ou até mesmo fazer um curso de alguma língua estrangeira moderna, em módulos, daquelas que não estão em extinção, é claro. Observe que na foto, as latas de batatas Pringles tem múltiplas utilidades de armazenamentos, isto se chama de Eco-Design e podem virar até caleidoscópios!
A informática democratizou o acesso à informação, porém o volume de papel utilizado pelo homem do século XXI, individualmente, é muitas vezes superior do que era utilizado no início do século XX. Talvez um dos maiores desperdícios da sociedade de consumo esteja no uso do papel. Sempre que possível devemos utilizar a impressão em ambos os lados. Pode-se fazer livretos de notas com a face em branco, forrar livros, fazer cadernos escolares para as crianças que estão no pré-escolar e jardim, mas não o lixo imediato. O incentivo de artes como o Origami, ensina as crianças o valor dos materiais. A maioria dos papéis, quando livres de Cloro, são biodegradáveis em um curto período de tempo. Porém, se queimados, liberam dióxido de carbono, em alguns casos liberaram dioxinas ou dicloro-etanos e furanos que são gases tóxicos. A natureza tem a capacidade de promover a degradação de sua matéria orgânica até componentes inócuos, tais como sais minerais, adubos naturais que são reincorporados em novos ciclos vitais. Por outro lado, as atividades dos catadores de papéis, papelões e aparas em nada mudaram em relação à idade média. Diariamente observamos carrinhos de catadores de papéis com tração humana com até 80kg de papéis, ou em carroças puxadas por cavalos, disputando o espaço urbano das ruas entre os carros. Uma cena paradoxal do século XXI, afinal, Curitiba é considerada uma Capital Social, o segundo maior pólo de fabricação de automóveis do Brasil. O novo e o arcaico convivem de forma nada harmoniosa, causando muitos acidentes e transtornos no trânsito bastante tumultuado de uma Cidade que cresceu muito além de suas capacidade, com a chegada das indústrias automobilísticas. Porém o comércio de papéis, como o de outros meteriais que vão para a reciclagem tem sofrido uma queda acentuada nos seus preços devido a crise que passamos, podendo agravar as questões ambientais urbanas.
O comércio de papel reciclado é o segmento mais pobre das pessoas que vivem da catação do Lixo. O valor pago é bastante baixo se comparado com outras catações como vidros, plásticos, metais e latas de alumínio. O preço de um kilograma de papel chega a ser multiplicado sete vezes desde o momento que sai do carrinho até chegar nas usinas de reciclagens. No meio do caminho ficam os donos dos depósitos, geralmente próximos às favelas, os aparistas, grandes comerciantes que compram o material dos depósitos, prensam, enfardam, e repassam para as usinas de reciclagem.
Esta atividade tem oferecido condições muito precárias, sub humanas, a um grande número de pessoas na Metrópole Ambiental. Em Curitiba, segundo a Prefeitura Municipal, o número de "carrinheiros" cadastrados chega a 3000. O pouco lucro com a venda do papel não é o único prejuízo do catador. As viagens que realizam, atravessando a cidade com o carrinho, causa sérios danos à sua saúde. Estes catadores estão expostos às doenças de pele causadas pela sujeira e poluição, correm grande risco de serem atropelados, de terem doenças respiratórias e musculares. Quando adultos tornam-se vítimas precoces de doenças da velhice, como reumatismos, pneumonias etc. As crianças e adolescentes, bastante franzinos, desde muito cedo tem limitações no desenvolvimento, devido ao excesso de peso que carregam durante todo o dia, sem freqüentar as escolas.
Todas estas famílias acabarão sobrecarregando o SUS, o Sistema Único de Saúde, e o INSS a Previdência Social, apesar de nunca terem contribuído com um centavo sequer, por viverem na economia informal. É imperioso identificar esses indivíduos através de uma Associação de Classe, desenvolver um plano de ação social, com propostas reais além do marketing televisivo, cada dia mais abusivo, algo que funcione de fato. Uma cooperativa de serviços, com alojamentos, banheiro, sala de refeições, oferecer equipamentos de proteção individual e subsidiar esta atividade. É preciso organizar este segmento social que se mostra cada dia mais intenso. O governo precisa fomentar Usinas de Reciclagem até o ponto de sustentabilidade deste segmento, para tirar do mercado informal estes trabalhadores que são verdadeiros heróis da reciclagem, e sem eles, a situação ambiental estaria mais crítica do que já está...
Apesar de retirar das ruas de Curitiba mais de 600 toneladas de lixo reciclável por dia e movimentar um negócio de R$1,5 milhão de reais por mês, não são reconhecidos como garis, caracterizando um apartheid social. Os catadores de papel, cujo trabalho evita o colapso da coleta de lixo nas grandes cidades, buscam um reconhecimento profissional. Querem se organizar para sair da penúria e ter direitos mínimos, como o INSS e a aposentadoria. São muito pobres, moram geralmente em favelas e raramente ganham mais do que R$15 por dia. Trabalham todos os dias, sem direito a férias, feriados ou Fundo de Garantia. Se pararem por 24 horas, seja por doença, chuvas, ou qualquer outro motivo, podem ficar sem ter o que comer. A iniciativa das prefeituras em promover coletas seletivas e os Programas do Lixo que não é Lixo são fundamentais.
A coleta seletiva de papéis, algumas empresas tem apresentado propostas promissoras. A coleta das Listas Telefônicas antigas, substituídas pelas novas, foi uma iniciativa inteligente neste segmento. O papel jornal também poderia ser coletado sistematicamente pelas Distribuidoras de Jornais, uma vez que voltam com as caminhonetes vazias após as entregas. O grande desafio será aliar os desafios culturais às demandas de novas tecnologias. Algo bastante difícil de ser praticado, se não houver investimentos em novas tecnologias nas Indústrias de Papéis. O uso dos materiais de origem reciclada, ao invés de material virgem, exige que maior valor seja agregado a este segmento, com investimentos na melhoria da qualidade dos produtos finais.
Quem prefere utilizar um papel higiênico feito de papel reciclado, um pouco cinzento, ao invés de um branquinho e perfumado feito com material virgem? Os norte-americano sempre gostaram de um bom papel higiênico, de preferência com mais de uma folha (bem macia), a chamada multi-ply, e acolchoada, ou seja, quilted. Os ambientalistas apontam para o fato de que esse tipo de papel higiênico ultra-macio, espesso e suavemente perfumado é mais perigoso para o meio-ambiente do que um trator Caterpillar D8H. Porém muitos defendem a questão ambiental com a paixão de um novo cristão, ficam estarrecidos com o desmatamento contínuo das florestas.
É preciso lembrar que para cada 60kg de papel reciclado, evita-se o corte de uma árvore.
A mudança cultural diante dos materiais é um grande desafio, certamente se continuarmos com os velhos procedimentos obteremos os mesmos resultados (ruins!) de sempre. É, isso mesmo, como já dizia o Lord Keynes, aquele do well faire state. A grande dificuldade não está em abraçar as novas idéias, mas em escapar das velhas. O estado do bem estar social deve oferecer um bom papel higiênico reciclado para a sua população, uma vez que as indústrias não tomam a iniciativa neste segmento, além de abaixarem o preço do material reciclado de uma forma aviltante.
Este papel higiênico reciclado seria vendido de forma subsidiada, com isenção de impostos, para escolas, repartições públicas, prefeituras, hospitais, forças armadas, entre outras unidades de consumo do Governo. Dois papéis higiênicos, que já sairam de linha, poderiam ser relançados na forma de 'Reciclados', o 'Pacu' com um desenho de um peixe no pacote, e o papel 'Sudameris' que também era o nome de um banco, saiu de linha, após uma gestão temerária.
Mas, a Economia Cíclica tem respostas para a crise, com uma visão holística, onde o sub produto de uma empresa é matéria prima para outra.

Um comentário:

Georgia Hammine disse...

Muito bem pensado e transcrito...
Achei seu blog por acaso e gostei!
Abraços.